quarta-feira, 29 de agosto de 2012

V.F.Xira: Ano letivo 2012/ 2013

No início de mais um ano letivo queremos mandar um beijo a todos os alunos e um abraço a todos os pais que continuam a interessar-se pelo sucesso dos filhos.
Para refletir, deixamo-vos com um artigo de Eduardo de Sá, publicado na revista do Expresso de 18 de agosto sobre a escola de que não temos saudades...


Manifesto contra a escola do passado

Na altura em que o regresso às aulas se avizinha, algumas reflexões sobre aquilo que a escola e o ensino não devem ser

1- É proibido que a escola se torne no mais importante da vida das crianças. Muito antes da família e dos amigos, dos sonhos e das paixões. A escola transforma o mundo mas são as pessoas preciosas quem o cria, em nós, e nos torna raros e insubstituíveis para ele. Quem põe a escola à frente de tudo pode, até, conseguir boas notas mas não aprende a gerir, ao mesmo tempo, os problemas com que a vida nos premeia. Será bom aluno, talvez. E sabichão. Mas desbarata todas as oportunidades com que se aprende a resolvê-los. E, sendo assim, não será sábio.

2- É proibido que se separe a educação infantil do ensino obrigatório, como se o ensino obrigatório fosse, tendencialmente, gratuito (não considerando o preço – inquietante! – dos manuais escolares) e a educação infantil fosse um capricho da classe média, tão cara como uma universidade privada e dispensável para o ensino obrigatório.

3- É proibido ensinar a ler e a contar no jardim de infância. Como se repetir fosse aprender. E desconsiderar o brincar e as histórias, a educação física, a educação musical e a educação visual como alicerces para sempre, do conhecimento. É proibido, ainda, açucarar esse desvario duma “epidemia atípica” de crianças sobredotadas (como se todas elas não fossem inteligentes e cultas e, ao mesmo tempo, não tivessem algumas necessidades educativas especiais).

4- É proibido dar aos trabalhos de casa a importância que eles não merecem. O essencial aprende-se na escola: na sala de aula e no recreio. E ao indispensável chega-se com o entusiasmo com que um professor ilumina toda a sabedoria que reparte. Fórmulas como: primeiro fazes os trabalhos de casa e, depois brincas” ou trabalhos de casa que excedam 30 minutos – como forma de repetir e não pensar, de entreter e de não espevitar – são (maus) modos com que se incentiva uma ideia sofrida e entediante de aprender.

5- É proibido que haja uma única vez que, ao repreender-se um aluno, ele vá (de castigo) para a biblioteca. E que não se crie um quadro de honra para os alunos faladores, porque são eles que mexem com o coração da escola e a tomam como uma praça do conhecimento: rebelde e educada, plural e singular.

6- É proibido dar aos rankings o protagonismo que não podem ter. comparar escolas do litoral e do interior, escolas inclusivas e exclusivas, escolas honestas e escolas batoteiras, escolas de jovens tecnocratas e escolas de rosto humano é dar boas notas ao engano. Mas se há quem insista num ranking, para a escola, que acarinhe: em primeiro lugar os professores, porque sem eles uma criança nunca descobre como amar é conhecer, e vice-versa; em segundo lugar, o espaço e os tempos da escola (assim ela seja acolhedora e acabe, de vez, com a ideia – absurda! – de períodos expositivos de 90 minutos e recreios supersónicos, de 10); em terceiro lugar, os programas: a forma como se adequam aos interesses das crianças e ao seu entendimento; e, em quarto lugar, a avaliação que (ao contrário do que se diz, quando há exames nacionais) são provas de aferição para a honestidade do ensino, para a sabedoria dos professores e para a sensatez da própria escola.

7- É proibido que os quadros de excelência considerem, unicamente, os alunos que têm boas notas e não premeiem os alunos solidários, os criativos, os empreendedores e os desportistas, e aqueles que, dum ano para o outro, vão do insuficiente ao bom, ou do assim-assim ao, inequivocamente, singular.

8- É proibido não mimar as dúvidas, a curiosidade e a imaginação: porque quem não duvida não descobre, e quem não pergunta nunca aprende.
Uma escola que tolera que um aluno, mal a frequente, deixe de perguntar “porquê?” não é amiga das crianças nem do conhecimento, e não transforma o futuro no lugar mais excitante e mais bonito para viver.
Eduardo Sá, Psicólogo