No início de mais um ano letivo queremos mandar um beijo a todos os alunos e um abraço a todos os pais que continuam a interessar-se pelo sucesso dos filhos.
Para refletir, deixamo-vos com um artigo de Eduardo de Sá, publicado na revista do Expresso de 18 de agosto sobre a escola de que não temos saudades...
Manifesto contra a escola do passado
Na altura em que o regresso às aulas se avizinha, algumas
reflexões sobre aquilo que a escola e o ensino não devem ser
1- É proibido que a escola se torne no mais
importante da vida das crianças. Muito antes da família e dos amigos, dos
sonhos e das paixões. A escola transforma o mundo mas são as pessoas preciosas
quem o cria, em nós, e nos torna raros e insubstituíveis para ele. Quem põe a
escola à frente de tudo pode, até, conseguir boas notas mas não aprende a
gerir, ao mesmo tempo, os problemas com que a vida nos premeia. Será bom aluno,
talvez. E sabichão. Mas desbarata todas as oportunidades com que se aprende a
resolvê-los. E, sendo assim, não será sábio.
2- É proibido que se separe a educação infantil do
ensino obrigatório, como se o ensino obrigatório fosse, tendencialmente,
gratuito (não considerando o preço – inquietante! – dos manuais escolares) e a
educação infantil fosse um capricho da classe média, tão cara como uma universidade
privada e dispensável para o ensino obrigatório.
3- É proibido ensinar a ler e a contar no jardim de
infância. Como se repetir fosse aprender. E desconsiderar o brincar e as
histórias, a educação física, a educação musical e a educação visual como alicerces
para sempre, do conhecimento. É proibido, ainda, açucarar esse desvario duma “epidemia
atípica” de crianças sobredotadas (como se todas elas não fossem inteligentes e
cultas e, ao mesmo tempo, não tivessem algumas necessidades educativas
especiais).
4- É proibido dar aos trabalhos de casa a
importância que eles não merecem. O essencial aprende-se na escola: na sala de
aula e no recreio. E ao indispensável chega-se com o entusiasmo com que um
professor ilumina toda a sabedoria que reparte. Fórmulas como: primeiro fazes
os trabalhos de casa e, depois brincas” ou trabalhos de casa que excedam 30
minutos – como forma de repetir e não pensar, de entreter e de não espevitar –
são (maus) modos com que se incentiva uma ideia sofrida e entediante de
aprender.
5- É proibido que haja uma única vez que, ao
repreender-se um aluno, ele vá (de castigo) para a biblioteca. E que não se
crie um quadro de honra para os alunos faladores, porque são eles que mexem com
o coração da escola e a tomam como uma praça do conhecimento: rebelde e
educada, plural e singular.
6- É proibido dar aos rankings o protagonismo que não podem ter. comparar escolas do
litoral e do interior, escolas inclusivas e exclusivas, escolas honestas e
escolas batoteiras, escolas de jovens tecnocratas e escolas de rosto humano é
dar boas notas ao engano. Mas se há quem insista num ranking, para a escola, que acarinhe: em primeiro lugar os
professores, porque sem eles uma criança nunca descobre como amar é conhecer, e
vice-versa; em segundo lugar, o espaço e os tempos da escola (assim ela seja
acolhedora e acabe, de vez, com a ideia – absurda! – de períodos expositivos de
90 minutos e recreios supersónicos, de 10); em terceiro lugar, os programas: a
forma como se adequam aos interesses das crianças e ao seu entendimento; e, em
quarto lugar, a avaliação que (ao contrário do que se diz, quando há exames
nacionais) são provas de aferição para a honestidade do ensino, para a
sabedoria dos professores e para a sensatez da própria escola.
7- É proibido que os quadros de excelência
considerem, unicamente, os alunos que têm boas notas e não premeiem os alunos solidários,
os criativos, os empreendedores e os desportistas, e aqueles que, dum ano para
o outro, vão do insuficiente ao bom, ou do assim-assim ao, inequivocamente,
singular.
8- É proibido não mimar as dúvidas, a
curiosidade e a imaginação: porque quem não duvida não descobre, e quem não
pergunta nunca aprende.
Uma escola que tolera que um aluno, mal a
frequente, deixe de perguntar “porquê?” não é amiga das crianças nem do
conhecimento, e não transforma o futuro no lugar mais excitante e mais bonito
para viver.
Eduardo Sá, Psicólogo